Professor da área de História Indígena no Departamento de História/USP e atua na sobretudo na área de história indígena e teoria da história. Em 2023, publicou o livro “Historicidades em deslocamento: temporalidade e política em mundos ameríndios”, baseado em sua tese de doutorado, defendida em 2020 no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Ouro Preto. Foi pós-doutorado no Maria Sibylla Merian Centre Conviviality-Inequality in Latin America (Mecila). Foi pesquisador visitante na Canning Library do King’s College London, com estágios de doutorado sanduíche na University of California, Davis e no Goldsmiths College, University of London. Fez mestrado na Universidade Federal do Paraná, e é graduado pela Universidade Federal de Ouro Preto. É membro da Sociedade Brasileira de Teoria da História e História da Historiografia (SBTHH).
O futuro do passado ameríndio: objetos, espaços sociais e histórias indígenas na América do Sul contemporânea (1970-2023)
Compreendendo os artefatos e espaços sociais como elementos mediadores da sociabilidade política e histórica das comunidades indígenas da América do Sul, o objetivo do projeto é fornecer uma imagem mais elaborada das conexões e dos desafios que surgem no interior dos processos de resistência e negociação entre as comunidades indígenas e os Estados-nação da região durante as últimas 5 décadas, período fundamental na história das organizações políticas indígena na região. O objetivo é elaborar uma melhor compreensão acerca dos sentidos históricos e as implicações epistemológicas dos debates contemporâneos referentes à presença de objetos, vestígios arqueológicos, artefatos materiais e espaços sociais das populações ameríndias da América do Sul. Seja sob a forma da contestação pública de monumentos, das imagens nacionais, passando pelo uso dos objetos como forma de produção de legitimidade político para os grupos indígenas, dos espaços possíveis de ação em espaços museológicos, apenas para mencionar alguns exemplos iniciais, questões que envolvem as propriedades materiais e imateriais dos povos indígenas em seu intercâmbio com as instituições tradicionais tem sido objeto de inúmeros e crescentes debates nas últimas décadas. Ao mesmo tempo, espaços sociais e simbólicos pré-colombianos que vem sendo encontrados na Amazônia contemporânea apresentam outras perspectivas que interessam o desenvolvimento do presente projeto. Cada vez mais expostos e visíveis por conta de uma complexa relação entre o desenvolvimento das técnicas arqueológicas, o avanço do desmatamento e os recordes históricos de estiagem na região, geoglifos, petróglifos e outros vestígios antigos parecem confirmar uma série de hipóteses da arqueologia amazônica sobre a ocupação do continente antes da chegada dos europeus. Tais espaços, reivindicadas pelos grupos indígenas locais como evidências de uma ocupação ativa de longa duração da região, servem também aos propósitos contemporâneos de negociação e reivindicação política por direito ao território. Essa complexa teia de acontecimentos, dentro do qual as mudanças climáticas e as condições políticas detêm uma força central (e em relação a qual os grupos tradicionais da região respondem de inúmeras formas), também se apresenta como realidade a ser mais bem investigada por especialistas, em diálogo com os saberes locais. A pesquisa pretende abordar essas situações tendo em vista as formas históricas de ação dos povos indígenas, considerando assim povos ativos na produção de suas próprias histórias. A partir de uma série de investigações recentes e em curso, conduzidas na Amazônia peruana, na Colômbia e no Brasil, busca-se a elaboração de um quadro mais compreensivo sobre as dinâmicas políticas, sociais e cosmológicas que informam a história recente das reivindicações indígenas por autonomia política e territorial.
BIANCHI, Guilherme. A vida política da paisagem. Rio de Janeiro/Copenhague, Zazie Edições, 2020.
- BIANCHI, G. “As formas da comunidade: convivialidade, corpo e política pós-conflito entre os Ashaninka do rio Ene (Amazônia peruana).” São Paulo: Mecila Working Paper Series, 2024 (Maria Sibylla Merian Centre Conviviality-Inequality in Latin America).
- BIANCHI, G. “El tiempo en otros términos: modalidades tradicionales y divergentes de temporalización y la imaginación pluralista.” Anuario de la Escuela Virtual (Universidad Nacional de Córdoba), v. 13, p. 49-71, 2023.
- BIANCHI, G. “Autonomia e soberania cósmica na Colômbia andina: ontopolíticas Misak no passado recente do Cauca.” Lugar Comum - Estudos de mídia, cultura e democracia, v. 60, p. 117, 2021.
- BIANCHI, G. “Não mais yanaconas modernos: tempo e legitimação histórica em um experimento historiográfico Misak (Cauca - Colômbia).” Horizontes Antropológicos, v. 26, p. 287-318, 2020.
- BIANCHI, G. “Arquivo histórico e diferença indígena: repensando os outros da imaginação histórica ocidental.” Revista de Teoria da História, v. 22, p. 264, 2019.
- - BIANCHI, G. “Persistent pasts in Peruvian Amazon: temporal clashes and justice among the Ashaninka of the Ene river (1980-2017).” História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 11, n. 28, 2018.
- PEREIRA, MATEUS HENRIQUE DE FARIA ; BIANCHI, GUILHERME ; ABREU, MARCELO SANTOS DE. “Popularizações do passado e historicidades democráticas: escrita colaborativa, performance e práticas do espaço.” Revista Tempo e Argumento v. 10, p. 279-315, 2018.
BIANCHI, Guilherme. “O futuro dos passados indígenas: desafios para a história indígena no tempo do Antropoceno.” In: Turin, Rodrigo; Lowande, Walter F. F.. (Org.). Antropoceno: perspectivas historiográficas. 1ed.Rio de Janeiro: NAU Editora, 2024, v. 5, p. 53-84.