Divulgação de Livro

​​​​​​​​​O amplexo político dos costumes de um jesuíta brâmane na Índia  

A acomodação de Roberto de’ Nobili em Madurai e a polêmica do Malabar (séc. XVII)
De Adone Agnolin. São Paulo/Rio de Janeiro, FAPESP/EdUFF, 2021.

Levando em consideração a problemática evangelizadora jesuítica no contexto asiáti­co, este livro analisa em sua especificidade a polêmica que nasce da diferente inter­pretação dos Ritos (indianos) do Malabar. Segundo a política formulada e defendida pelo padre italiano, Roberto de’ Nobili – que se insere na perspectiva das anteriores pro­postas de Alessandro Valignano, no Japão, e de Matteo Ricci, na China –, a missão jesu­ítica na Índia, fora do contexto e do controle do Padroado português, vai desencadear uma acesa polêmica que ecoa tanto no con­texto asiático, quanto junto à Congregação de Propaganda Fide romana.

Em Madurai, o jesuíta italiano tentou con­ciliar hinduísmo e cristianismo, apresen­tando os jesuítas nas funções de brâmanes ocidentais. Todavia, ao contrário do que aconteceu na China, as tensões em relação a essa estratégia missionária cresceram, aqui e inicialmente, sobretudo no interior da própria Companhia de Jesus. De qual­quer modo, como no caso da relativa aos ri­tos chineses, essa disputa sobre os ritos do Malabar também se desencadeou a partir do choque entre missionários em relação a oportunidade de aos neófitos, continuarem a praticar alguns ritos (e usar símbolos) li­gados às tradições de seu país.

O conflito foi se estabelecendo e crescendo ao redor de uma divergência substancial na interpretação desses ritos: tratava-se de ri­tos civis ou religiosos? As diferentes respos­tas subentendiam interesses e implicações bastante relevantes em relação ao projeto missionário jesuítico. Finalmente, foi na diferente interpretação dos sinais simbóli­cos dos brâmanes sannyasim – aos quais se inspirava a praxe de adaptação implemen­tada pela proposta missionária de Rober­to de’ Nobili – que se acendeu o confronto conhecido, sucessivamente, como a “polê­mica dos ritos”.

Nas “ortopráticas rituais” (em contraposi­ção às “ortodoxias religiosas”) – que sur­giam e se impunham nos âmbitos missio­nários às margens dos impérios políticos – vinham-se ampliando o gap e a diferença entre as interpretações “religiosa” e “políti­ca” dos costumes locais, entre sua diferen­te identificação com os cultos idolátricos ou os ritos civis. Essa “controvérsia dos ri­tos”, enfim, representa não só uma marca importante do início do mundo moderno, mas a própria configuração da aurora da modernidade inscrita no âmbito missio­nário e religioso: que, com a filosofia das Luzes, irá preparar não só a nova moder­nidade da política, mas, antes, uma nova antropologia em suas bases propriamente histórico-religiosas.

Tags