Disciplina FLH5463 - Território, poder e senhorios nos códices mixtecos

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Programa de Pós-graduação em História Social

SIGLA DA DISCIPLINA: FLH 5463
NOME DA DISCIPLINA: Território, poder e senhorios nos códices mixtecos PROGRAMA/ÁREA: Pós-graduação em História Social
No DE CRÉDITOS: 2

DOCENTE(S) RESPONSÁVEL(EIS):
1. Docente externo: Manuel Álvaro Hermann Lejarazu (Centro de Investigaciones y Estudios Superiores en Antropología Social, México)
2 Docente USP
Eduardo Natalino dos Santos

PROGRAMA

Apresentação

A história pré-hispânica dos diversos povos ameríndios que habitaram a região Mixteca (no sul do México) perdurou através de registros pictoglíficos ou códices, que foram elaborados entre os séculos XIV e XVI d.C. Neste lapso temporal, surgiram alguns centros hegemônicos ou senhorios, governados pelos yya (termo em mixteco que significa rei ou senhor), que articulavam ao redor de si uma extensa rede de alianças matrimoniais com fortes implicações políticas e econômicas em nível regional. E foi, precisamente, nesses centros de poder que os seis códices mixtecos de origem pré-hispânica que sobreviveram à Conquista espanhola foram produzidos, para registrar tanto a fundação mítica de algum senhorio quanto a história e a genealogia de seus soberanos.

Os manuscritos pré-hispânicos mixtecos que sobreviveram à conquista espanhola são conhecidos atualmente como Códice Bodley, Códice Nuttall, Códice Vindobonensis, Códice Selden, Códice Colombino e Códice Becker ainda que o Códice Selden tenha sido terminado em meados do século XVI, é considerado de origem pré-hispânica devido ao fato de que não existe nenhuma influência espanhola em sua elaboração. Em termos gerais, não é possível datar com exatidão quando foram produzidos muitos desses documentos. Entretanto, levando em conta a temporalidade representada em seus relatos, a correlação calendárica dos anos mixtecos com os anos cristãos e alguns critérios estilísticos, é possível estabelecer uma cronologia que situe comparativamente as prováveis épocas de elaboração de cada um dos códices.

No geral, os códices mixtecos estão pintados por ambos os lados. Nos códices Nuttall, Bodley e Vindobonensis, por exemplo, foram plasmadas as histórias e relatos de origem dos senhores governantes, assim como registros sobre as fundações de seus senhorios e genealogias. Por outro lado, existem manuscritos que atualmente se encontram pintados por um único lado, mas que demonstram indícios de terem sido utilizados em ambos os lados. Esse é o caso do Códice Selden que, hoje em dia, conserva apenas a história da linhagem de Jaltepec em suas páginas, mas que, em algum momento, também portou textos pictóricos em seu reverso, dos quais somente podemos observar hoje alguns vestígios. Já o caso do Códice Colombino-Becker I merece atenção especial, pois narra a biografia do senhor Oito Veado Garra de Jaguar desde a perspectiva da região da Mixteca da Costa e, talvez devido a esta procedência, conserve um estilo pictórico que não possui continuidade em toda a região mixteca durante os séculos que precedem a chegada dos europeus. Ou seja, a tradição pictórica e glífica da Costa parece ter sido a mais rica em estilo e iconografia, mas não a encontramos presente em outros documentos provenientes das regiões mixtecas vizinhas, apesar de o Códice Colombino-Becker ter sido confeccionado ainda por volta do século XIV, ou seja, época em que se produziram outros códices mixtecos, assim como nos séculos seguintes.

Objetivo

A disciplina Território, poder e senhorios nos códices mixtecos tem como objetivo principal discutir e aprofundar o estudo, a análise e a interpretação dos seis manuscritos histórico-genealógicos que sobreviveram à conquista espanhola e foram apresentados acima. Através de cinco diferentes temáticas, anunciadas abaixo, a disciplina proporcionará elementos necessários para entender os processos históricos, políticos e sociais registrados nesses documentos históricos, fazendo com que o estudante se aproxime tanto da história mixteca pré-hispânica, por meio dos diversos relatos pictóricos sobre seus soberanos e governantes, quanto das questões metodológicas relacionadas ao estudo desse tipo de manuscrito e registro, típicos da região da Mesoamérica.

Método de estudo

Fundamentalmente, procurar-se-á trabalhar com uma ótica que não limite o conhecimento dos códices a uma metodologia unidirecional. Proporemos uma perspectiva analítica que leve em consideração os contextos específicos nos quais os códices foram produzidos. Também recorreremos ao emprego da língua mixteca, de documentos, de fontes históricas e de dados etnográficos contemporâneos, além de tratar a imagem e seus possíveis significados de maneira rigorosa, com base em proposições teórico-metodológicas amplamente documentadas.

Conteúdo e programa de aulas

 

Sessões

Temas

Leituras

16 de outubro 10h-14h

I Introdução aos códices
II
Métodos de pesquisa.
Primeira aproximação aos códices mixtecos, considerando seus conteúdos e áreas de proveniência. Além disso, serão analisados

(Boone, 2000)
(Caso, 1945), (Smith,1973a) (Jansen, 1992)
(Pohl & Byland 1990),

 

métodos que diversos autores criaram para o estudo dos códices mixtecos.

(Jansen y Pérez Jiménez, 2011)

18 de outubro 10h-14h

II Métodos de pesquisa (continuação)
III
Introdução à escritura: glifos toponímicos e antroponímicos.
Dois elementos fundamentais para aproximar-se aos códices mixtecos são os glifos de nomes de lugar e os de nomes pessoais. Ambas as categorias, que conformam a escritura, compartilham a mesma base pictórico-logográfica conectada a certos signos fonéticos. Apesar de o repertório escriturário mixteco conter topônimos e antropônimos, ele também é integrado por um considerável número de convenções pictóricas compartilhadas por outros sistemas, como o nahua.

(Boone, 2000) (Smith, 1973 a e b)

(Jansen, 1992) (Jansen & Pérez Jiménez, 2011)

(König, 2002) (Hermann, 2008)

20 de outubro 10h-14h

IV Conteúdos: Mitos de origem nos códices mixtecos e primeiras dinastias.
As narrativas que se registraram nos códices mixtecos são diversas e compreendem temas relacionados com mitos de origem. Em algumas páginas dos códices são representados vários senhores nascendo de montanhas, rios, árvores e pedras, enfatizando a origem sagrada do soberano e que o constitui como o grande fundador da linhagem que manterá o poder em todo o senhorio.

(Anders et al, 1992a e 1992b)
(Jansen & Pérez Jiménez, 2000 e 2011) (
Códice Nuttall, Lado 2, 2008)

(Caso, 1977, vol. 1).

23 de outubro 10h-14h

V O rei Oito Veado e a hegemonia de Tilantongo.
Será analisado o papel e a importância do governante Oito Veado, Garra de Jaguar, na história da Mixteca. Além disso, serão buscados vínculos desse personagem com Tilantongo para explicar o papel deste lugar como o mais prestigioso da Mixteca.

(Byland & Pohl, 1994) (Jansen & Pérez Jiménez, 2000 e 2011) (Códice Nuttall, Lado 1, 2006).

(Códice Colombino y Becker I, 2017)

 

Bibliografia

Anders, Ferdinand, Maarten Jansen & Gabina Aurora Pérez. Origen e historia de los reyes mixtecos. Libro explicativo del llamado Códice Vindobonensis. España, Austria, México: Sociedad Estatal Quinto Centenario, AkademischeDruck-undVerlagsanstalt, Fondo de Cultura Económica, 1992a. (Códices Mexicanos, I).

_________________________, Crónica Mixteca: el rey 8-Venado Garra de Jaguar y la dinastía de Teozacoalco-Zaachila. Libro explicativo del llamado Códice Zouche- Nuttall. España, Austria, México: Sociedad Estatal Quinto Centenario, Akademische Druck-undVerlagsanstalt, Fondo de Cultura Económica, 1992b. (Códices Mexicanos, II).

Boone, Elizabeth Hill, Stories in Red and Black. Pictorial Histories of the Aztec and Mixtecs, Austin, University of Texas Press, 2000.

Byland, Bruce E. y John M. D. Pohl. In the Realm of 8 Deer: The Archaeology of the Mixtec Codices. Norman and London: University of Oklahoma Press, 1994.

Caso, Alfonso, “El Mapa de Teozacoalco”, Cuadernos Americanos, vol. 8, no. 5, 1949, pp. 145-181.

____________, Reyes y reinos de la Mixteca, México, Fondo de Cultura Económica, 1977- 1979, 2 vols.

Códice Nuttall, Lado 1: La vida de 8 Venado, estudio introductorio e interpretación de láminas de Manuel A. Hermann Lejarazu, Arqueología Mexicana, edición especial: Códices, Núm. 23, 2006.

Códice Nuttall, Lado 2: La historia de Tilantongo y Teozacoalco, estudio introductorio e interpretación de láminas de Manuel A. Hermann Lejarazu, Arqueología Mexicana, edición especial: Códices, Núm. 29, 2008.

Códices Colombino y Becker I. La historia de los señores 8Venado y 4 Viento, edición facsimilar, introducción e interpretación de láminas de Manuel A. Hermann Lejarazu, Arqueología Mexicana, edición especial: Códices, Núm. 74, 2017.

Hermann Lejarazu, Manuel A., Códice de Yucunama, México, CIESAS, 2009. _____________________ “Los nombres personales en los códices mixtecos: un análisis lingüístico e iconográfico”, Pictografía y escritura alfabética en Oaxaca, Sebastián van Doesburg (coord.) Oaxaca, México, Instituto Estatal de Educación Pública de Oaxaca, 2008, pp. 197-215.
Jansen Maarten, “Mixtec Pictography: Conventions and Contents”, Supplement to the

Handbook of Middle American Indians, vol. 5,Epigraphy. Austin, University of

Texas Press, 1992, pp. 20-33.
Jansen, Maarten,
La gran familia de los reyes mixtecos. Texto explicativo de los códices

Egerton y Becker II, México, FCE, 1994.
Jansen, Marteen & Gabina Aurora Pérez Jiménez.
La dinastía de Añute. Historia, literatura e ideología de un reino mixteco. Leiden, The Netherlands: Research School CNWS, 2000.
Jansen, Maarten & Gabina Aurora Pérez Jiménez,
La lengua señorial de Ñuu Dzahui.

México, Oaxaca, Instituto Estatal de Educación Pública de Oaxaca, 2009. _______________________, The Mixtec Pictorial Manuscripts. Time, Agency, and Memory

in Ancient Mexico, E. J. Brill, Leiden/Boston, 2011.
König, Viola, “La escritura mixteca”, en Libros y escritura de tradición indígena. Ensayos

sobre los códices prehispánicos y coloniales de México, Carmen Arellano Hoffmann, Peer Schmidt y Xavier Noguez, México, El ColegioMexiquense, Universidad Católica de Eichstätt, 2002, pp. 109-155.

Pohl, John, M. D. & Bruce Byland, “Mixtec Landscape Perception and Archaeological Settlement Patterns”, Ancient Mesoamerica, vol.1, no.1, 1990, pp. 113-131.

Romero Frizzi, María de los Ángeles, El sol y la cruz. Los pueblos indios de Oaxaca Colonial, México, CIESAS, Instituto Nacional Indigenista, 1996, (Historia de los pueblos indígenas de México).

Smith, Mary Elizabeth, Picture Writing from Ancient Southern Mexico. Mixtec Place Signs and Maps. Norman: University of Oklahoma Press, 1973 (a).

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Spores, Ronald, The Mixtec Kings and their People, Norman, University of Oklahoma Press, 1967.

Spores, Ronald, Ñuu Ñudzahui. La Mixteca de Oaxaca. La evolución de la cultura mixteca desde los primeros pueblos hasta la Independencia, México,Oaxaca, Instituto Estatal de Educación Pública de Oaxaca, 2007.